Jardim de Inverno - Kristin Hannah - resenha

     A vida das irmãs Meredith e Nina Whitson é marcada pela relação difícil com a mãe Anya, uma russa de “sangue frio”. As meninas tentaram conquistar o amor materno durante anos, mas desistiram. Sua relação de afeto era inteiramente com o pai, pelo qual as duas eram absolutamente apaixonadas. O único momento de proximidade entre elas, era quando a mãe contava histórias da Rússia, Contos de Fadas. 

     As meninas viram mulheres. Meredith casa e tem duas filhas, conseguindo, apesar dos pesares, criar vínculos com suas meninas. Assume os negócios da família e se vê envolta em obrigações e tarefas que os outros querem que faça. Nina é uma fotojornalista bem sucedida, mundialmente reconhecida, que cobre notícias de guerra, fome, miséria, acompanhando o sofrimento do mundo. Seu projeto especial são fotos de mulheres fortes, guerreiras, que vencem a vida apesar das dificuldades. Porém, apesar do sucesso aparente, ambas são marcadas pela relação, ou a falta dela, com sua mãe. Não conseguem se permitir amar e demonstrar esse amor. 

     A relação de Meredith com Jeff, seu marido, esta desgastada. Suas filhas cresceram e estão na faculdade, os dois se afastaram e fingem continuar, porém há muito tempo não ficam juntos realmente. Jeff tenta se aproximar de sua esposa, mas encontra barreiras gigantes, o que os afasta ainda mais.

     Nina tem um namorado jornalista, que é totalmente apaixonado por ela. Estão juntos a 4 anos, mesmo assim ninguém de sua família sabe. Não consegue assumir sua afeição e sua relação. Quando ele tenta se aproximar, ela se afasta. A grande dificuldade das irmãs em expressar o amor por seus homens é frustrante e muito triste. Em alguns momentos dá vontade de estender a mão para dentro das páginas e tomar uma atitude por elas, sacudi-las, falar por elas.... Um “Eu te amo”, “Volta pra mim”, “Fica comigo”, “Me ajuda” ... Porém elas não conseguem! É como se as emoções ficassem presas dentro da garganta sem sair... Nina e Meridith lutam por vencer essa barreira e falar sobre o que sentem. Precisam descobrir que as palavras realmente importam. 

     Meridith, se dá conta do quanto deixou de falar sobre seus desejos e vontades, durante tantos anos de relacionamento, mas agora pode ser tarde demais para salvar seu casamento.

“ – Eu nunca contei para você que queria ir ao Alasca....

   - Eu queria que você tivesse dito.

   - Sim. Eu também.

   - As palavras importam, eu acho – ele disse por fim. – Talvez seu pai soubesse disso o tempo todo.”

                                                                                                                                      Meredith e Jeff


     Em meio a todos esses problemas e dificuldades, o pai adoece gravemente e está à beira da morte. Neste momento, ele faz Nina prometer que fará sua mãe contar um de seus contos até o fim. Nina pensa que ele só quer aproximá-las, lembrando-as dos pequenos momentos juntas, durante a infância, e se afasta de todo o sofrimento e das obrigações, inclusive da promessa que fez ao pai, indo embora para cobrir outra desgraça no mundo. 

     Depois de muitas idas e vindas, a saída de Jeff da casa do casal, a sobrecarga emocional e física pela qual passa Meredith, a suposta loucura da mãe e sua internação em um asilo, a impossibilidade de Nina de continuar com seu trabalho, sentindo de repente, muito mais a dor de seus registros fotográficos, do que antes, a briga entre as irmãs, que se percebem agora tão afastadas. A família realmente parece estar desmoronando após a morte do pai.

     Em meio a esse caos, Anya começa o Conto de Fadas. As mulheres então, viram meninas novamente, relembrando os momentos de sua infância. Porém ao longo da história algo parece ter mudado, os Contos antes tão mágicos, começam a se mostrar muito reais. A russa parece dar alguns deslizes durante as histórias, como o nome de alguns lugares, agora reais na antiga Leningrado, detalhes que despertam o interesse de Nina e Meredith. 

     As filhas de Anya estão prestes a descobrir que sua mãe é muito mais do que parecia. Essa descoberta pode transformar a vida das mulheres da família, libertando-as da clausura emocional na qual se encontravam.

     “ ... quando somos mães, nós... suportamos o que for preciso por nossas crianças. Você vai protege-las. Isso vai doer em você; isso vai doer nelas. Seu trabalho é esconder que seu coração está se partindo e fazer o que elas precisam que você faça.” 

     O livro é LINDO! A surpresa da história é mesmo o Conto de fadas tornando-se realidade. São fatos acontecidos durante a 2º guerra mundial, na Rússia de Stalin e depois durante a invasão nazista. As descrições do Conto de Fadas são extremamente verdadeiras, reais, e acredito que é isso que torna o livro tão especial. Você pode mesmo sentir o que os personagens estão vivendo. É doloroso, absurdamente triste e ao mesmo tempo mágico. Saber que muitas pessoas, de verdade passaram pelas mesmas provações, é assustador. 

     Como pode uma pessoa sobreviver a tanta dor? Tantas perdas e ainda continuar, ainda viver? Geralmente corro de livros que parecem tristes, (e preparem a torneirinha, pois eu chorei muito), porém Jardim de Inverno me surpreendeu. É um livro para ler, e relembrar. Recomendo!!!

Por Layla Raas

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